Coluna Econômica - 09/09/2008
Já tratei do tema em meu blog (www.luisnassif.com.br), mas vale um resumo aqui, sobre o momento que o país atravessa.
Há claramente uma tentativa de varrer a Operação Satigraha para baixo do tapete. Participam dessa tentativa membros do governo Lula e da oposição, órgãos de imprensa e Ministros do Supremo.
Essa confusão é típica dos grandes movimentos tectônicos que marcam o início de uma nova etapa na vida de um país.
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Historicamente, o Brasil foi um país sem nenhuma espécie de controle social sobre atos de governo. Desde a caixa preta do Banco Central aos grandes contratos públicos, fosse no período pré-64 ou no período militar, na Nova República ou no pós-Nova República, o jogo sempre foi cinzento.
Essa falta de controle e regulação permitiu o acasalamento entre o jogo político e a contravenção, o jogo econômico e o crime organizado. Era aceito como normal empresas, personalidades, publicações, transitarem pelo mundo cinzento dos fundos off-shore – convivendo com dinheiro da contravenção e do crime organizado.
Havia uma despreocupação total em relação a práticas ilegais mas que se abrigavam nessa zona cinzenta da semi-legalidade.
Não se tratava de um fenômeno exclusivamente brasileiro, embora por aqui a falta de controles fosse um dado histórico.
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O crime organizado cresceu em torno de paraísos fiscais, fundos off-shore. Mas cresceu tanto que, a partir de determinado momento, despertou a reação dos estados nacionais.
Inicialmente foram criadas leis mais severas e uma maior fiscalização em cada país. Depois, os países se deram conta de que, dada a globalização dessas atividades, teria que se atuar de forma cooperativa, juntando as forças anti-crime de cada país.
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No Brasil, esse modelo teve início em 2003, em um seminário organizado em Pirinópolis pelo ex-Ministro da Justiça Márcio Thomas Bastos. Acertadamente, Márcio juntou Ministério Público Federal, Polícia Federal, Polícia Rodoviária, Receita Federal, COAF, Banco Central. Para combater o crime, o trabalho de inteligência deveria contemplar todos esses setores.
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Criou-se uma área de inteligência, os órgãos de fiscalização aprenderam gradativamente a entender esse bicho, processo que foi acelerado pelas CPIs dos Precatórios e do Banestado.
Foi preparada uma nova geração de servidores públicos, sem os vícios dos velhos esquemas que costumavam dominar os órgãos de repressão. E eles passaram a seguir o manual: fazer cumprir a lei.
Ocorre que, quando teve início a grande Operação Satiagraha, várias ilustres figuras ainda navegavam em áreas turvas. Na mídia, houve lances arriscados de parceria entre publicações e o mega-empresário Daniel Dantas. Foi um passo imprudente na hora errada: quando a Satiagraha estava a pleno vapor.
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Agora, tenta-se varrer o lixo para baixo do tapete. E é muito lixo porque, pelo que consta, a Operação flagrou em situação ilegal advogados, juízes, políticos e jornalistas.
Mas a marcha da história é inapelável: o Brasil vai se tornar uma nação civilizada, sem nenhuma espécie de intocável, acima das leis.
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