Empréstimos entre instituições financeiras secam e obrigam os bancos centrais das principais nações desenvolvidas tiveram de injetar US$ 210 bilhões para acalmar o nervosismo no mercado interbancário.
A reportagem é de Leandro Modé e publicada no jornal O Estado de S.Paulo, 17-09-2008.
O mercado financeiro global viveu ontem um dos momentos de maior oscilação desde o início da crise das hipotecas, em meados do ano passado. Durante grande parte do dia, imperou o pessimismo que já havia abatido os investidores na segunda-feira. Ao longo da tarde, informações consideradas positivas sobre instituições financeiras americanas levaram alguma tranqüilidade aos negócios. Segundo analistas, a tendência para hoje e para os próximos dias continua sendo de volatilidade.
O Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa), que chegou a cair 4,45% na mínima pontuação do dia, subiu 1,68%. No ano, acumula desvalorização de 22,94%. O Índice Dow Jones perdeu 1,60% no pior momento do pregão, mas se recuperou e fechou em alta de 1,30%.
"É chocante o nível de estresse dos mercados", afirmou o economista-chefe do Banco WestLB, Roberto Padovani. "Os relatos que recebemos de Nova York são de que não há negócios entre os bancos. O clima é de pânico."
Pela manhã, os bancos centrais das principais nações desenvolvidas tiveram de injetar US$ 210 bilhões para acalmar o nervosismo no mercado interbancário. O Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) entrou, sozinho, com US$ 50 bilhões. Somados, o Banco da Inglaterra (BoE), o Banco Central Europeu (BCE) e o Banco do Japão (BoJ) aplicaram US$ 160 bilhões.
Segundo Padovani, essa atitude é fundamental para evitar a quebra em cadeia das instituições. "Não se trata apenas de atuar no lado psicológico, mas de real escassez de liquidez (recursos), o que faz os bancos não terem como honrar os compromissos", explicou. "Vida de banco é assim mesmo: há descasamento (entre ativo e passivo) todo dia."
A tendência negativa mudou no fim do dia, quando surgiram as primeiras informações de que o governo Bush estudava salvar a seguradora American International Group (AIG), a maior do país. À noite, o Fed confirmou o negócio.
O BC americano emprestará US$ 85 bilhões à empresa em troca de uma participação de 79,9%, o que pode ser visto como uma estatização, ainda que temporária.
Outra informação bem-recebida foi o balanço trimestral do banco de investimentos Morgan Stanley, o segundo maior dos EUA. A instituição lucrou US$ 1,42 bilhão no terceiro trimestre, acima da expectativa dos analistas.
Em meio ao forte vaivém, o Fed manteve a taxa de juros em 2%. Inicialmente, a notícia aprofundou a queda das bolsas. Mas, depois, foi reavaliada. "Uma queda do juro não resolveria os problemas atuais dos mercados", disse a economista-chefe do ING Bank, Zeina Latif. "Além do mais, já se tem a percepção, diferente do início do ano, de que a economia americana não vai despencar."
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