A escalada de violência nos departamentos (províncias) opositores da Bolívia está provocando um clima de forte mal-estar entre alguns setores das Forças Armadas do país que, segundo analistas, complicará ainda mais a crise em que está mergulhado o governo do presidente Evo Morales. Ontem, o canal de TV “Gigavisión”, de Santa Cruz, divulgou um pronunciamento elaborado por um grupo de militares que pediu ao governo e à oposição que busquem alcançar um acordo através do diálogo. Os militares pediram para não serem identificados.
A reportagem é de Janaína Figueiredo e publicada pelo jornal O Globo, 09-09-2008.
— A posição das Forças Armadas é muito delicada. Elas continuarão defendendo a democracia, o governo e todas as instituições do país, mas para isso estão enfrentando situações muito complicadas — disse o professor da Universidade Maior de San Andrés, Carlos Cordero.
Segundo ele, “a maioria dos militares teme que a crise os obrigue a reprimir de forma violenta os opositores do governo”.
— Os militares não querem um golpe de Estado, mas também não querem repressão — enfatizou o analista boliviano.
— Por defender o governo, as Forças Armadas estão quase em guerra com as regiões opositoras e os militares estão muito preocupados.
Nas últimas semanas, o governo Morales militarizou os principais campos de produção de gás do país, na tentativa de evitar novos boicotes da oposição. O ministro da Presidência, Juan Ramón Quintana, militar reformado e homem de confiança de Morales, assegurou recentemente que, se for necessário, o governo usará a violência para defender-se de seus opositores.
Depois de ter tido seu mandato confirmado no referendo do mês passado, o próximo objetivo do presidente Morales, afirmaram analistas locais, é aprovar a nova Constituição do país, que ainda tem de obter o sinal verde do Congresso.
— O tempo está se esgotando e o governo está redobrando as pressões. A disputa neste momento é pela Constituição — assegurou a analista Ximena Costa.
Segundo ela, “o pedido dos departamentos opositores de obter a restituição do Imposto Direto sobre os Hidrocarbonetos (uma das demandas que desencadeou os protestos dos últimos dias) é, no fundo, uma desculpa para pressionar o governo para que seja modificado o texto da nova Constituição”.
— Lamentavelmente, a oposição não pode recuar porque os ataques do governo tem sido constantes e cada vez mais violentos — argumentou Costa.
A analista boliviana afirmou que o governo Morales “não quer ouvir as demandas opositoras e apela constantemente à violência, o que está gerando cada vez mais violência no país”. Para ela, “pela dificuldade de dialogar com seus opositores, o governo está enfrentando ações similares às praticadas pelo MAS quando não estava no poder”.
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