Ainda é muito cedo para avaliar com precisão as conseqüências da crise internacional sobre a economia brasileira.
Para o Ministro da Fazenda Guido Mantega, serão da seguinte ordem:
* Ligeira desaceleração na economia por causa do encarecimento do custo do capital, empréstimos externos rarefeitos e retração de IPOs (venda primária de ações);
* juros de longo prazo crescendo;
* medidas para conter a inflação na área fiscal e tributária
* saída de capitais da bolsa e da renda fixa, com desvalorização do real.
* balança comercial perdendo saldo, porém com reservadas elevadas e deixando para trás a fase de apreciação exacerbada do real.
Segundo Mantega, o governo continua apostando no cenário de crescimento, substituindo mercado externo pelo interno.
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O economista Yoshiaki Nakano é menos otimista, mas ainda assim otimista.
Em 2006, o volume de ativos financeiros era quatro vezes maior do que o PIB mundial. Com o furo da bolha, chega ao fim uma era de 20 anos de juros baixos que caracterizou a economia mundial. Chega ao fim um longo ciclo de crescimento fundado nos Estados Unidos e na expansão do crédito.
Agora, com a recessão nos Estados Unidos, Europa e Japão, o pólo de crescimento se desloca para a China e para o Leste da Ásia.
No início da crise, diz Nakano, o FED (o Banco Central americano) apenas recompôs a liquidez (isto é, a necessidade imediata de caixa pelo sistema bancário). No começo, bancos com prejuízo conseguiram recompor o capital atraindo novos investidores. Agora esse processo foi interrompido. Sem conseguir recompor o capital próprio, haverá um gigantesco processo de desalavancagem (isto é, dos bancos se desfazendo de ativos para reduzir o endividamento), provocando uma contração de crédito que baterá em todo mundo, empresas e consumidores.
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Segundo Nakano, as perdas do sistema financeiro chegam a mais de US$ 500 bi contabilizados e declarados. O FMI diz que poderão chegar a US$ 1 trilhão. Já existem avaliações de US$ 1,3 tri. Nesta semana, chegou-se a estimar em US$ 3 trilhões a perda de capital próprio das instituições financeiras. Segundo a Goldman Sachs, a contração de crédito pode ser de 8 a 10 vezes a redução do capital próprio.
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Nakano montou um quadro comparando a situação brasileira atual com a de 1999. Em quase todos os indicadores, há melhorias substanciais. Menos na vulnerabilidade externa, por conta da relação M2 (depósito à vista e ativos líquidos) sobre reservas cambiais).
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Para Júlio César Gomes de Almeida, diretor do IEDI (Instituto de Estudos de Desenvolvimento Industrial), os dados de endividamento externo não revelam todos os compromissos do país. O passivo externo líquido é a soma da dívida externa líquida e do estoque de capital estrangeiro líquido investido no país. Se o investidor quiser tirar seu dinheiro, o impacto será o mesmo da amortização da dívida. Aliás, com uma diferença: dívidas têm prazo paraquitação; desinvestimento, não.
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De qualquer forma, o tsunami da economia mundial obrigará a uma rediscussão ampla sobre os rumos da política econômica e o futuro do próprio país.
José Dirceu
A propósito da coluna de domingo, recebo email do ex-Ministro José Dirceu: “Li a sua coluna (abaixo do meu texto) e envio-lhe esta nota que publiquei em meu blog, sobre a matéria da revista Carta Capital. Solicito que publique a evidência, indício ou prova que justifique tua afirmação no artigo. Até hoje não há nada que me vincule a Daniel Dantas. Aproveito essa resposta para reiterar que repilo e repudio toda afirmação que me registre como aliado de Daniel Dantas no governo.
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