Desafiando o Rio-Mar: Beruri/Anamã
“Há mais pessoas que desistem do que pessoas que fracassam”. (Henry Ford)
Por Hiram Reis e Silva (Anamã, AM - 18 de janeiro de 2009)
- Largada para Anamã
Ultimei os preparativos para a partida e me recostei para relaxar. Lá pelas 20h um policial militar se apresentou informando que o Coronel Rômulo havia determinado que a PM de Beruri me prestasse apoio incondicional. Pedi apenas que lá pelas 05h30min eles me ajudassem, com a viatura, a transportar o material do Hotel para o caiaque. Os PM chegaram muito antes do combinado, às 04h30min, e acabei partindo antes de clarear o dia às 05h15min.
- 'À hora é à hora'
Recordei uma passagem na Academia Militar das Agulhas Negras, cujo ensinamento guardei para o resto da vida. O então Cadete Reis apresentou o pelotão de engenharia ao instrutor de Educação Física, Cap Serpa, 7 minutos antes da hora prevista. O capitão, sem pestanejar, determinou que eu retornasse com o pelotão e o apresentasse na hora marcada. Na oportunidade, suas palavras textuais foram 'À hora não é antes, nem depois, a hora é à hora'. Desde então tenho pautado meus compromissos seguindo o ensinamento do antigo instrutor. Logicamente não quis causar constrangimentos ao prestativo militar da PM e levantei da cama e alterei minha programação.
- Navegando à noite
O sol só despertou uma hora depois, quando eu já ultrapassava os limites da Ilha de Anamã, no Purus. Ao contrário dos demais alvoreceres, o silêncio era opressor, não havia encantamento, a sinfonia dos pássaros não aconteceu. Apenas o bater das pás dos remos na água, o salto dos botos tucuxis e sua vigorosa respiração quebravam a monotonia.
Minha atenção foi despertada para as alfaces d’água (Pistia Stratiotes) do Purus. Elas são enormes, em toda a viagem não as havia visto tão grandes, algumas alcançam 50 centímetros de diâmetro. Só parei na foz, no mesmo acampamento de pescadores onde aportáramos na ida para Beruri. O rio das contradições, heróico e cruel, deixara marcas profundas na nossa expedição. O Romeu teve de percorrer os 150 quilômetros até Manacapuru de motor, tendo em vista a avaria sofrida pelo seu caiaque. Os amigos pescadores se surpreenderam com a notícia.
- Parada na Ilha
Parei na extremidade de jusante da Ilha do Purus ou Gabriel, afinal agora as duas são uma só, para ajustar o GPS. Calibrei e me dirigi à foz do Anamã. Faltando aproximadamente 500 metros para a foz, comecei a prestar atenção nas embarcações e simultaneamente uma desapareceu na margem, ao mesmo tempo em que os botos tucuxis surgiram no alinhamento da proa e da foz.
- Anamã
Chegando a Anamã acionei a PM, que me ajudou a descarregar o caiaque e estacioná-lo em um flutuante próximo. Fui alojado em um Hotel próximo à prefeitura, tomei um banho e fui almoçar em um quiosque na bela orla do Anamã. A limpeza e o charme das casas de madeira pintadas com cores vivas encantaram-me. Até agora a sujeira, o lixo e os urubus eram uma constante em todas as comunidades e cidades visitadas. Anamã é um modelo para as demais cidades e sua população ordeira e hospitaleira não foge à regra amazônica.
(*) Coronel de Engenharia; professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA); membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB); presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS)
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