- Há dias, o vice-presidente norte-americano em exercício, Dick Cheney, foi questionado sobre o facto de saber se o líder da Al-Qaida estará ainda vivo. Respondeu:
"Não sei, mas imagino que sim".
Esta resposta é perfeita para distinguir 2 conceitos filosóficos: a crença e o conhecimento. Dick Cheney acredita que Bin Laden estará vivo, mas não sabe se Bin Laden estará vivo. - Segundo uma definição tradicional, a crença
[crer é dar o assentimento a uma proposição]
é condição necessária ao conhecimento. Necessária mas não suficiente: é ainda necessário que essa crença seja verdadeira. Se Bin Laden estiver morto, jamais Dick Cheney poderá saber que ele está vivo -- ainda que possa estar muito convicto de que o sabe. - Segundo a mesma definição, é necessária uma terceira condição: que essa crença verdadeira esteja justificada. Assim, eu sei que está a nevar porque fui há pouco à janela e deparei-me com o bonito espectáculo.
- Portanto, se S designar um qualquer sujeito (do conhecimento) e P designar a proposição que exprime o seu conhecimento, S sabe que P se, cumulativamente,
- S acreditar que P;
- P for verdadeira;
- S tiver uma justificação para acreditar que P.
- Há quem sempre tenha dito que Bush mentiu.
A mentira verifica-se quando S acredita que P mas afirma que não-P. Se Bush mentiu, então ele acreditava que não havia as tais armas, mas disse que havia[Pacheco Pereira, em tempos, publicou um texto onde defendia que Bush não mentiu, precisamente porque, segundo o comentador, Bush acreditava no que disse].
Esta distinção permite-nos perceber que S pode estar a mentir dizendo a verdade.
Vamos supor que S acredita que no Iraque há armas de destruição massiva, mas[por razões que agora não interessam]
diz que não há. Como S diz o contrário daquilo em que acredita, está a mentir. Mas, como o que ele diz é verdade[diz que não há armas e de facto não as há],
então está a dizer a verdade mentindo.- Nota final, talvez
[não muito]
despropositada: Falar Verdade a Mentir é o título de uma comédia de enganos do escritor português Almeida Garrett. Leia-a aqui[ou descarregue-a de lá, se preferir, para a ler no computador].
Aqui há uma ficha de leitura da obra.
Seja este exemplo: Quando Bush justificou a invasão do Iraque, afirmou que sabia que no Iraque havia armas de destruição massiva. Verificou-se que de facto não havia essas armas, pelo que Bush não podia saber que havia as tais armas. E a razão é esta: admitindo que Bush acreditava que havia as tais armas, e mesmo também admitindo que tinha justificação
[os serviços de informação tê-lo-iam informado de tal existência],a sua crença era falsa.
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