"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

segunda-feira, janeiro 19, 2009

Obama se rende a Wall Street

Site do Azenha - Atualizado em 19 de janeiro de 2009 às 11:15 | Publicado em 19 de janeiro de 2009 às 11:03

Obama sells out to Wall Street

By David Sirota, na revista eletrônica SALON

O veto é o equivalente legislativo à bomba atômica -- um instrumento raramente usado como força devastadora para vaporizar os votos de 535 representantes eleitos. Quando um presidente-eleito lança a ameaça de um veto antes de assumir, causa uma explosão particularmente grande porque direciona os debates e determina suas prioridades para os próximos quatro anos.

É por isso que todo americano que não é um executivo da indústria financeira deveria estar nervoso.

Depois que o presidente Bush pediu esta semana que o Congresso libere os 350 bilhões que faltam do pacote de ajuda aos bancos, Obama prometeu vetar qualquer lei que rejeite o pedido, significando que ele não vai começar a presidência "virando a página em políticas que colocaram a cobiça e a irresponsabilidade de Wall Street antes do trabalho duro e do sacrifício das pessoas comuns da Main Street", como ele uma vez prometeu. Em vez disso, Obama prometeu uma nuvem de cogumelo a não ser que os legisladores permitam que o dinheiro do contribuinte continue rolando para os maiores interesses do Grande Dinheiro.

Em meio aos elogios à "nova política" [de Obama], estamos assistindo ao velho estilo de pagar favores por parte de um político que arrecadou mais dinheiro de Wall Street que qualquer outro -- um presidente-eleito cujas festas de posse estão sendo pagas pelos banqueiros que estão se beneficiando do pacote de ajuda. A salvo da pressão eleitoral, Obama indicou economistas conservadores para os cargos mais importantes da Casa Branca; fala em cortar impostos dos bancos; e está tentando preservar o bem-estar corporativo que beneficia quase que exclusivamente a classe doadora da política.

Isso não é a tal "mudança" da qual tanto se fala -- é política do dinheiro com um nome diferente. Como sabemos? Porque nem Obama nem qualquer outra pessoa [de seu governo] está tentando justificar o resgate pelos seus méritos -- e dá para entender o motivo. Mesmo os questionamentos básicos provam que os méritos [do resgate bancário] não existem.

O resgate aumentou os empréstimos bancários, que era um dos objetivos? "Centenas de bilhões de dólares foram injetados no mercado sem efeitos demonstráveis nos empréstimos", diz um relatório de uma comissão do Congresso que analisa o uso do dinheiro.

As autoridades federais têm um plano para melhorar a implementação do pacote? O relatório causa alarme ao falar "das mudanças de explicações para os objetivos do resgate", notando que o governo "ainda não explicou sua estratégia".

O dinheiro está sendo usado de forma responsável? O relatório diz que falta transparência, o que significa que o público "ainda não sabe o que os bancos estão fazendo com o dinheiro do contribuinte".

Mas a pergunta mais perturbadora nem está sendo feita: o resgate bancário é a melhor forma de estimular a economia?

Dar mais dinheiro do resgate está sendo vendido como uma necessidade auto-evidente, ainda que o New York Times tenha divulgado esta semana que "o Tesouro diz que não há uma necessidade urgente" de dinheiro adicional [para os bancos]. De alguma forma, forçar gente que ganha 40 mil dólares por ano a dar dinheiro do contribuinte aos milionários de Manhattan é definido como a única forma "séria" de ação. Poucos perguntam se o dinheiro não poderia ser melhor investido em saúde ou infraestrutura para estimular a economia. De alguma forma, o ônus da prova recai sobre os oponentes do resgate, não sobre os que querem outro cheque.

Essa dinâmica bizarra não tem nada a ver com o "pragmatismo" que Obama retoricamente usa como fetiche -- e a maioria dos americanos, que é contra o resgate dos bancos, sabe disso.

Com certeza, Obama pode acreditar que é suficientemente esperto para parecer corajosamente populista enquanto usa a Casa Branca para perpetuar a cleptocracia. Talvez ele imagine que a ameaça de um veto vá, pela segunda vez, forçar a nação a relutantemente aceitar um roubo.

Ou talvez, antes de outro passe de mágica, Obama deveria parar um momento de estudar os discursos de Lincoln ou as conversas de Roosevelt e se lembrar da irrefutável sagacidade de um dos mais infames bushismos.

"Há um ditado no Tennessee", o presidente Bush disse no início do seu primeiro mandato. "Engane-me uma vez, a culpa é tua. Engane-me duas vezes -- você não me enganará de novo".

A ÍNTEGRA, EM INGLÊS, ESTÁ AQUI

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