O grupo Votorantim anunciou ontem a compra da Aracruz, por um valor que pode chegar a R$ 5,6 bilhões. O negócio consolidará as operações da VCP (Votorantim Celulose e Papel) com as da Aracruz e criará a maior empresa de celulose do mundo. Para fechar a operação, a VCP contará com recursos do BNDES que poderão chegar a R$ 2,4 bilhões.
A reportagem é de Cristiane Barbieri e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 21-01-2009.
A VCP tinha anunciado o fechamento do negócio em setembro. Poucas semanas depois, no entanto, com o acirramento da crise financeira e perdas de R$ 1,9 bilhão por parte da Aracruz com operações financeiras atreladas ao câmbio, a negociação foi suspensa.
O próprio grupo Votorantim também teve perdas (de cerca de R$ 2,2 bilhões) com operações de derivativos. Conseguiu se recapitalizar, nos últimos meses, com a venda de ativos. O principal negócio foi a venda de metade da participação do Banco Votorantim ao Banco do Brasil, por R$ 4,2 bilhões.
Anteontem, a Aracruz chegou a um acordo com bancos credores para renegociar suas perdas com derivativos, o que abriu o caminho para a retomada das discussões com a VCP.
Ontem a VID (Votorantim Industrial), que engloba a VCP e outras unidades industriais do grupo, informou ao mercado o fechamento do negócio. Caso desistisse, a VCP teria de pagar multa de R$ 1 bilhão.
Nessa retomada do negócio, a Votorantim pagará R$ 2,710 bilhões por 28% das ações da Aracruz pertencentes à Arapar, que estavam nas mãos das famílias Lorentzen, Almeida Braga e Moreira Salles.
O mesmo valor deverá ser desembolsado também pelas ações da Arainvest, do grupo Safra. Na primeira negociação, o Safra permaneceria como acionista da nova empresa. Agora a expectativa é que o grupo queira sair do negócio.
"Tivemos reuniões com os Safra na semana passada e as indicações que temos é pela saída deles da Aracruz", afirma Raul Calfat, diretor-geral da VID.
Além dos R$ 5,4 bilhões pagos aos controladores, o desembolso a ser pago aos acionistas minoritários poderá chegar a R$ 200 milhões.
Caso os Safra optem por ficar no negócio, sua participação na nova empresa será diluída. O grupo financeiro também tem a opção de fazer a compra em conjunto com a VCP. Procurado, o grupo Safra não respondeu a pedido de entrevista.
Aportes
Para completar a operação, será feita uma reestruturação societária na VCP, que deverá ser concluída em quatro meses. Num primeiro momento, será feito um aumento de capital, de até R$ 4,254 bilhões.
A VID aportará R$ 1,180 bilhão, sendo que R$ 600 milhões em recursos próprios. Outros R$ 580 milhões serão colocados na forma de debêntures (dívidas) emitidas pelo BNDES e permutáveis por ações com direito a voto da VCP.
O BNDES também colocará outro R$ 1,2 bilhão para completar o aumento de capital. Poderá haver, ainda, um desembolso para a oferta aos acionistas minoritários. No total, o gasto do BNDES na operação poderá chegar a R$ 2,4 bilhões.
Com esses investimentos, o BNDES, que já era dono de 3,1% do capital da VCP e de 5,5% do capital da Aracruz, passará a deter 26% da nova empresa. Apesar de minoritário, o BNDES terá até 2014 direito a veto em matérias relevantes referentes à companhia.
O pagamento da Aracruz será concluído até julho de 2011, sem correção. Trazido a valor presente, o desembolso feito a cada acionista controlador será de R$ 2,350 bilhões. O deságio será uma compensação pelas perdas recentes da Aracruz.
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