Desafiando o Rio-Mar: Laranjal/Coari
Há mais pessoas que desistem do que pessoas que fracassam”. (Henry Ford)
Por Hiram Reis e Silva (Coari, AM - 08 de janeiro de 2009)
- Largada para Laranjal
Saímos às 06:05 do Lago Ipixúna sem guardar boas lembranças da comunidade que, apesar de se chamar ‘Divino Espírito Santo’, não prima muito pelo espírito cristão em termos de amparo aos que a ela acorrem procurando abrigo. Forçamos um pouco o ritmo e chegamos a Laranjal, por volta das 12:00 horas, após avistar uma enorme samaúma às margens do Solimões. Laranjal tem seu nome ligado a uma grande plantação de laranjeiras que já não existe no local.
Cheguei procurando, como de praxe, pelo administrador rural, o senhor Everaldo, conforme nos informara seu João, do lago Ipixúna. O senhor Idelfonso nos recebeu e informou que o líder da comunidade não se encontrava no local, mas que o vice faria contato conosco. Senti uma certa desconfiança nos olhos do velho homem que nos incentivava a prosseguir sem parar até Coari. A resistência de seu Idelfonso tinha uma razão de ser: anos antes eles haviam se envolvido com traficantes que se abrigavam na comunidade, fazendo com que a polícia de Coari fichasse diversos de seus membros por envolvimento deliberado com os meliantes.
Informei de que nossa intenção era pernoitar na comunidade e, depois de muita conversa, fomos acomodados no Centro Comunitário. Armei a barraca e arrumei as coisas, tomei um banho e depois fomos almoçar na casa do Idelfonso, a seu convite, o qual, já nos conhecendo melhor, tornou-se bastante amistoso. O contato com o decano e com sua família foi bastante agradável.
- A vingança da Samaúma
A primeira visão que se tem da comunidade, quando se desce o rio, é de uma exuberante samaúma com suas enormes sapopemas que lembram os véus de uma deusa da floresta. Existiam três na região; a maior delas foi criminosamente abatida para ser vendida e transformada em compensado. Uma árvore magnífica como esta deveria ser tombada como patrimônio e, nunca, utilizada para comercialização.
O senhor Idelfonso construiu um barco à sombra de uma imponente samaúma próxima a sua casa. O barco ficou pronto e permaneceu no local da construção. Em uma determinada noite a vingança ocorreu. A samaúma despencou um de seus mais frondosos galhos, esmigalhando o barco e vingando a irmã derrubada pela comunidade.
- O Jacaré Crocodiliano
Idelfonso contou que todas as noites um enorme jacaré, de seus mais ou menos sete metros de comprimento, cruza o Solimões rumo a Coari. A história foi confirmada pelos demais membros da comunidade e em Coari ouvimos diversos relatos a respeito de animais do mesmo porte. O Major Denildo, da Polícia Militar de Coari, nosso amigo e guardião, relatou ter visto com os próprios olhos, na casa de um ribeirinho às margens do Nhamundá, um couro de jacaré destas proporções.
- Largada para Coari
A noite foi de temperatura bastante agradável e teria sido perfeita não fosse o fato de um bezerro apartado da mãe ficar mugindo a noite inteira. Acordamos ao alvorecer, nos despedimos da família amiga que tão gentilmente nos acolhera e partimos. Paramos no Terminal Solimões, da Petrobras, próximo a Coari, e fomos tratados com total indiferença pelo técnico responsável, depois aguardá-lo por quase 30 minutos. Fomos orientados a procurar, logo ao lado do terminal, o representante da Consag, prestadora de serviços encarregada da construção do gasoduto. O técnico responsável mandou um recado para que procurássemos o pessoal da Consag em Coari que, igualmente e após inúmeras tentativas, não se dignou em nos atender.
Nossa intenção era a de mostrar o trabalho ambiental e social que vem sendo desenvolvido ao longo das obras de implantação do gasoduto. Infelizmente, a Petrobras e suas terceirizadas parecem querer transformar o projeto numa enorme caixa preta, tamanha a gama de dificuldades que apresentam aos que tentam mostrar as alternativas adotadas pela empresa procurando proporcionar melhoria nas condições de vida da população atingida pelas obras.
- Major PM Denildo
A navegação até Coari foi rápida em virtude da forte correnteza. Deixamos os caiaques no Flutuante da Consag, por volta das 12:30 horas, seguindo a orientação de um de seus funcionários. Telefonei, imediatamente, para o 190, solicitando o apoio de nossos fiéis amigos da Polícia Militar do Estado do Amazonas. Não demorou cinco minutos e o Major Denildo estava no cais. Tomamos banho na residência do Major que, depois, nos levou até restaurante Piracuí para almoçarmos. Após o almoço, percorremos a cidade na viatura da PM e conhecemos seus principais pontos turísticos e o complexo de obras executados pela prefeitura de Coari na gestão do prefeito Adail Pinheiro. O Major conseguiu junto à senhora Eliana, coordenadora da UAB (Universidade Aberta do Brasil), que ficássemos hospedados na Universidade. A coordenadora e cada um dos membros da UAB nos receberam de braços abertos e nos franquearam o acesso aos computadores e internet.
- Coari
O Major Denildo tem sido incansável. O café da manhã regional, de 07 de janeiro, foi degustado na Greici e o Major colocou o Cabo Pereira à nossa disposição para reconhecer a cidade, realizar entrevistas e assistir a posse do secretariado do novo prefeito. No dia 08, tomamos café na Greici, passeamos pela cidade em companhia do Major Denildo e concedemos uma entrevista na Rádio Nova Coari FM. A Maria Helena chegou por volta das 10:30 e o Denildo ampliou nosso passeio turístico até o lago Mamiá.
(*) Coronel de Engenharia; professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA); membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB); presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS)
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