Desafiando o Rio-Mar: Coari, uma cidade a todo gás
Há mais pessoas que desistem do que pessoas que fracassam”. (Henry Ford)
Por Hiram Reis e Silva (Coari, AM - 10 de janeiro de 2009)
- Coari
A capital amazônica do gás natural se debruça sobre as águas do Rio Solimões entre os Lagos de Coari e Mamiá. Sua herança indígena está arraigada na diversidade e na força dos índios Catuxy, Irijus, Jumas, Jurimauas, Passés, Purus, Solimões, Uaiupis, Uamanis e Uaupés. O primeiro núcleo de povoamento foi uma aldeia indígena fundada no início do século XVIII pelo padre jesuíta Samuel Fritz, com a mesma denominação do rio que banhava o pequeno povoado. Segundo Ulysses Pennafort, o termo Coari vem das palavras indígenas ‘Coaya Cory’, ou ‘Huary-yu’, que significa respectivamente ‘rio do ouro’ e ‘rio dos deuses’. A denominação dada ao rio estendeu-se ao lago e, posteriormente, ao município.
Sobre as índias (trecho de autoria do padre João Daniel em ‘Tesouro Descoberto’: ‘Algumas fêmeas a que além de suas feições lindíssimas, têm os olhos verdes e outros azuis com uma esperteza e viveza tão engraçadas que podem ombrear com as mais escolhidas brancas’. Na época, os portugueses já haviam miscigenado com as aborígines, embora durante muito tempo este ato fosse repudiado e proibido pela igreja, que não os consideravam como humanos. No entender de João Daniel, estas índias deveriam ter origem diversa dos demais povos da floresta, não admitindo que os portugueses pudessem estar contrariando a determinação da igreja.
Em 1759, a aldeia é elevada a Lugar com o nome de Alvelos. Em 1833, foi o Lugar Alvelos elevado à Freguesia, sob a invocação de Nossa Senhora Santana. Em 1854, a sede da freguesia foi transferida para a foz do lago de Coari. Em 2 de dezembro de 1874 foi elevada a vila, em 2 de agosto de 1932 a Vila de Coari é elevada a categoria de cidade. Em 1890 é instalado o termo judiciário de Coari e em 1891 é criada a comarca de Coari. Em 1913 é suprimida a comarca de Coari, ficando seu Termo Judiciário subordinado a Tefé. Em 1916 é reinstalada a comarca de Coari, continuando o Termo Judiciário subordinado a Tefé. Em 1922 é suprimida novamente a comarca e em 1924 restaura-se definitivamente a comarca de Coari, compreendendo os Termos de Coari, Manacapuru e Codajás. Em 1932 Coari é elevada à categoria de cidade.
A cidade conhecida anteriormente pela produção de banana, hoje se destaca por produzir petróleo e gás natural na região de Urucu. O gasoduto vai ligar a província produtora ao mercado consumidor localizado em Manaus, a 450 km de distância, tem a previsão de conclusão e início de operação para o 1º semestre de 2009.
A exploração da Província Petrolífera do Rio Urucu iniciou em 1988, dois anos após a descoberta do primeiro poço. A reserva estimada é de mais de 70 milhões de barris de óleo e quase 300 milhões de barris de gás natural, que representam um quarto das reservas nacionais. O início da exploração data de 1917, quando o Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil realizou as primeiras sondagens.
Coari é o segundo PIB do Estado, graças aos royalties pagos pela Petrobras ao município do gás natural. A enorme jazida descoberta a cerca de 3 mil metros abaixo do solo fez com que a Petrobrás implantasse em suas terras a Província Petrolífera do Rio Urucu, viabilizando a prospecção, o transporte e o escoamento do produto até o Solimões e, de lá, para a Refinaria de Manaus (Reman).
Desde o primeiro poço, construído em 1986, até hoje, Coari teve seu PIB maximizado. Hoje está girando em torno dos R$ 20 milhões em royalties transferidos pela Petrobrás ao município, além de R$ 1 milhão pago como prêmio ao grande volume de produção ou rentabilidade. É o município, com exploração continental, que mais recebe royalties, perdendo apenas para os da região da bacia de Campos.
O valor dos royalties relativos à exploração de petróleo e do gás natural é repassado à Secretaria do Tesouro Nacional. O valor depende de fatores como riscos geológicos e expectativas de produção, mas gira entre 5% e 10% do total da produção durante um mês. A Agência Nacional do Petróleo é quem apura o valor devido aos beneficiários e garante o pagamento, que é dividido entre estados e municípios produtores.
- Coari a todo gás
Apenas nos últimos anos, na administração do prefeito Manoel Adail Amaral Pinheiro (PL), é que grandes projetos e obras tem sido levados a efeito com estes recursos. Os royalties têm sido aplicados na manutenção de uma série de projetos sociais, entre eles o centro de convivência do idoso, barcos do cidadão, distribuição de enxovais para mães carentes, pavimentação de ruas, ginásios desportivos, escolas, construção de casas populares, eletrificação e saneamento básico. A cidade se destaca dentre todas no norte/nordeste do país. Conforme as próprias palavras do prefeito, Coari deu um ‘salto econômico e social’ de fazer inveja a todos os municípios do pais. Quiséramos nós que os investimentos oriundos dos royalties fossem sempre aplicados na educação, saúde, segurança e moradias populares.
Visitando a cidade, pode-se verificar a qualidade das obras realizadas pela prefeitura, sempre acompanhadas de um tratamento paisagístico adequado. O asfaltamento das ruas e a beleza dos parques e jardins realmente tornam Coari uma pérola incrustada em plena hiléia. A administração relatou-nos que está em andamento um projeto de revitalização do porto e a retirada das palafitas da beira do lago, transferindo os moradores para casas populares.
- Hospitalidade Coariense
Desde que chegamos, à cidade, a cordialidade com que fomos tratados foi marcante, tanto pela Polícia Militar do Amazonas, na pessoa do seu comandante o senhor Major Denildo Lima Brilhante, pela Prefeitura de Coari - representada pelo secretario do Meio Ambiente e Turismo, senhor Alvimar da Costa Monteiro, e o secretário dos esportes, senhor Joabe de Lima Rocha - e pela UAB (Universidade Aberta do Brasil), cuja coordenadora senhora Eliana de Menezes Salgado gentilmente nos abrigou.
O Major Denildo foi nosso guia turístico, nosso interlocutor com as demais autoridades e, principalmente, um amigo com quem pudemos contar em todos os momentos. Os secretários deixaram de lado seus afazeres para atender nosso desejo entrevistá-los e de conhecer o Lago Coari e fotografá-lo; a senhora Eliana da UAB, além de nos abrigar, permitiu que usássemos os computadores da Universidade.
Gostaríamos de deixar aqui registrado nosso agradecimento ao apoio incondicional que recebemos dos amigos mencionados anteriormente, sem o quê nossa pesquisa seria bastante dificultada.
(*) Coronel de Engenharia; professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA); membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB); presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS)
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