Quem vive ou passou Moscovo sabe onde fica a estação de metropolitano Kropotkinskaia. Sim é aquela que fica a algumas poucas centenas de metros do Kremlin, residência oficial do Presidente russo e símbolo do poder no país, que tem saídas que conduzem ao Templo de Cristo Redentor e ao Museu Puschkine.
Pois é, em pleno dia, nessa região, onde há mais polícias por metro quadrado do que em qualquer outro bairro de Moscovo, foram assassinados a tiro um conhecido advogado que defendeu civis da barbárie militar russa na Tchetchénia, bem como Anna Politkovskaia, a conhecida jornalista russa que também foi assassinada por denunciar iguais crimes.
Merkelov foi atacado e abatido logo depois de ter dado uma conferência de imprensa para denunciar a libertação antecipada do ex-coronel do exército russo Iuri Budanov, o autor da morte da jovem chechena Elza Kungaieva, 18 anos, em Março de 2000. Um responsável do centro independente de imprensa Nezavisissimy Press-Tsentr, onde o advogado falara aos jornalistas, lamentou que Merkelov nada tenha dito sobre presumíveis ameaças de morte recebidas.
Budanov foi condenado a 10 anos de prisão em Julho de 2003 - na sequência de uma maratona judiciária e de um processo anterior do qual saíra incólume -, por ter estrangulado Elza Kungaieva. O ex-coronel foi no entanto libertado na passada quinta-feira, apesar de um recurso do advogado Markelov. A libertação do militar foi denunciada por activistas dos direitos humanos e gerou uma vaga de indignação na pequena república separatista do norte do Cáucaso.
O carrasco da jovem tchetchena, talvez para sair mais depressa da prisão, acabou por reconhecer que assassinára a jovem e que estava arrependido, mas não reconheceu que a violou antes de a ter morto.
O autor dos disparos contra o jurista foi um desconhecido, que conseguiu escapar, segundo testemunhas presenciais.
A jornalista estagiária que acompanhava o advogado morreu na sequência de ferimentos, revelou o director do bi-semanário Novaia Gazeta, onde a jornalista trabalhava.
Ironia do destino, ou talvez não, mas, na segunda-feira, o Novaia Gazeta publicou uma grande investigação sobre os crimes cometidos por homens ligados ao actual presidente pró-russo da Tchetchénia, Ramzan Kadirov.
Não seria melhor se as supremas russas se preocupassem mais com a segurança dos seus cidadãos que lhes estão perto em vez de irei "proteger" cidadãos seus feitos à pressão na Ossétia do Norte e da Abkhásia?
Afinal, a segurança prometida por alguns dirigentes não passa de mais uma promessa. Segurança há, mas só para alguns.
Talvez a justiça russa descubra e castigue os criminosos. Talvez, mas custa-me a acreditar.
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