Desafiando o Rio-Mar: Codajás/Beruri
“Há mais pessoas que desistem do que pessoas que fracassam”. (Henry Ford)
Por Hiram Reis e Silva (Beruri, AM, 175 de janeiro de 2009)
- Largada para Beruri
Como a previsão era subirmos o Purus apoiados por um barco a motor, não nos preocupamos em sair muito cedo. Tomamos café no restaurante ‘Cinco Irmãos’ às 06h30min, e o sargento Osmar, da Polícia Militar, apoiou-nos no transporte da carga até os caiaques. Depois de uma despedida festiva por parte dos amigos da Consag, partimos rumo ao Purus às 08h20min.
Paramos logo em seguida para comer algumas araçás, abundantes às margens do lago; as frutas são semelhantes a pitangas, com sabor de acerola. As águas pretas do lago contrastam com as do Solimões. Voltar ao Solimões, deixando o hospitaleiro povo de Anori - em especial nosso ‘anjo da guarda’ amigo da Polícia Militar Sargento Osmar - nos enche de nostalgia e de expectativa em relação às novas amizades e plagas que iremos conhecer.
- Deslocamento para o Purus
‘A partida para o alto Purus é ainda o meu maior, o meu mais belo e arrojado ideal’ (Euclides da Cunha)
O deslocamento até a boca do Purus foi rápido, graças à correnteza do Rio-Mar. Enfrentamos uma chuva forte que me obrigou a procurar abrigo em um Flutuante para guardar a câmera fotográfica. Chegamos à foz do Purus por volta das 11h e aportamos junto a um grupo de pescadores, aguardando a ‘voadeira’ que nos rebocaria rio acima. Os botos passaram à nossa frente em sentido contrário ao deslocamento que iríamos percorrer. Seria um aviso?
- Tragédia no Purus
O soldado da Polícia Militar de Anori, Pedro Pereira, chegou pouco tempo depois com a ‘voadeira’. O meu caiaque, como era menor, foi colocado atravessado sobre a ‘voadeira’ e o duplo foi rebocado a meia velocidade. Já próximo de Beruri a corda que tracionava o caiaque rompeu. O frágil caiaque da Opium havia praticamente partido em dois e por pouco não naufragou. Conseguimos rebocá-lo até a margem e embarcá-lo em motor que se deslocava rumo à Beruri.
- Hospitalidade Amazônica
Paramos em um flutuante próximo ao porto e o encarregado permitiu que colocássemos os caiaques em um flutuante ao lado, que se encontrava em construção. Fui tentar fazer contato com o Sargento Pereira, comandante da Polícia Militar de Beruri. Estava procurando um moto-táxi quando o professor Cid se ofereceu para me dar uma carona até a delegacia e depois até a residência do sargento.
O Pereira pediu ao filho que me levasse até a delegacia, onde se encontrava a viatura militar, enquanto se fardava. Providenciou um hotel (o Milena) junto ao porto e deslocamo-nos até o flutuante onde o Romeu e a Maria Helena já nos aguardavam.
- 1° dia em Beruri
Após o banho, fui até um telefone público informar a professora Rosângela do ocorrido e pedir a ela que repassasse a informação aos nossos colaboradores e familiares. O Romeu conseguiu alguém para ‘consertar’ o caiaque e eu fui até o restaurante ‘Tudo de Bom’ para tomar um suco de graviola. Enquanto colocava em dia os apontamentos do Rio-Mar, emprestei a máquina fotográfica para a Maria Helena tirar algumas fotos.
- 2° dia em Beruri
Acordei cedo para tirar algumas fotos e tentar entrar em contato com a Polícia Militar. O pouco caso dos agentes e policiais militares desde o dia anterior contrastava com o padrão que encontráramos até então em quase todas as localidades. Pedi à professora Rosângela para tentar entrar em contato com o Major Denildo, de Coari, para ver se através do comandante de Manacapuru conseguíamos um maior apoio por parte da polícia local. Como o restaurante ‘Tudo de Bom’ demorasse para abrir, acompanhei a Maria Helena até o restaurante Mandala para o café da manhã. Mandei um moto-táxi à casa do sargento Pereira e à delegacia e me dirigi a uma lan house para digitar os textos. Decidimos que seria melhor levar o caiaque para Manacapuru e tentar consertá-lo lá, contando com o apoio da Polícia Militar. O Romeu e a Maria Helena partiram no motor Silva Lopes e chegarão hoje à noite. Mantendo o planejamento inicial, sairei amanhã às 06h direto para Anamã.
(*) Coronel de Engenharia; professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA); membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB); presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS)
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