A crise econômica empurrou, entre outubro de 2008 e janeiro passado, 88 mil pessoas para o subemprego nas seis principais regiões metropolitanas do país, formando um contingente de 709 mil subocupados, de acordo com o IBGE.
A reportagem é de Pedro Soares e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 08-03-2009.
Subocupados são pessoas que buscam trabalhar mais horas e estão disponíveis para assumir uma jornada maior imediatamente - para conseguir, provavelmente, uma remuneração maior -, mas que, diante da crise, só obtêm biscates e serviços em tempo parcial.
No período entre outubro e janeiro, justamente posterior ao agravamento da crise, a subocupação acumulou alta de 14,2% em relação ao total de trabalhadores que estavam nessa condição (621 mil).
Em janeiro, o subemprego avançou 11% ante o mesmo mês do ano anterior e repetiu a tendência já vista em dezembro -alta de 10,2% nessa comparação, segundo dados da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE.
Foram afetados brasileiros como Gabriela Paiva, 22, que trabalhava na loja de uma financeira no centro de Niterói, fechada logo após a crise de crédito detonada no fim do ano passado. Agora, ocupa parte da semana com a venda de anúncios para um jornal de bairro e ganha, no máximo, R$ 300 por mês em comissões.
Ela e tantos outros gostariam de trabalhar mais, mas o mercado se fechou especialmente desde dezembro.
"O crescimento da subocupação se intensificou em dezembro [ante o mesmo período de 2008] e já evidencia que é um efeito da crise no mercado de trabalho metropolitano, que, olhando para os demais indicadores, só começou a piorar a partir de janeiro", diz Fábio Romão, especialista em trabalho da consultoria LCA.
Segundo ele, o contingente de subocupados historicamente sempre vai na direção oposta à da ocupação: cresce em tempos de desaceleração ou mesmo de queda do emprego. Foi assim na recessão de 2003 e o quadro se repete agora, ainda que com menor intensidade. Em janeiro daquele ano, esse grupo de trabalhadores chegou ao pico de 1 milhão de pessoas.
Nos meses finais de 2008, a ocupação já dava sinais de enfraquecimento, tendência que se intensificou neste ano. Em janeiro, subiu 1,9% ante o mesmo mês de 2008 -abaixo da média do ano passado, de 3,4%. De dezembro para janeiro, o total de ocupados caiu 1,6%.
Segundo estudo do Ipea, até 70% dos informais gostariam de trabalhar mais. Outro dado indica que a maioria dos subocupados está nas faixas mais baixas de renda obtida.
"O crescimento da subocupação mostra uma deterioração do mercado de trabalho e uma piora da qualidade do emprego, o que costuma acontecer em períodos de crise", afirma Romão, da LCA.
Já Cimar Azeredo Pereira, gerente da pesquisa do IBGE, diz que o crescimento da subocupação pode ser um sinal da crise, mas ressalta que é preciso observar outros meses para que seja confirmada a tendência de piora. Tal opinião é compartilhada pelo especialista Lauro Ramos, do Ipea.
Romão diz que, nas metrópoles, os sinais da crise no mercado de trabalho só se tornaram mais evidentes em janeiro, quando a ocupação caiu e o desemprego cresceu. Ele prevê um cenário mais negativo neste primeiro trimestre, quando as demissões vão se intensificar no setor de serviços, o que mais emprega nas grandes regiões metropolitanas.
Outro possível indício da deterioração do mercado de trabalho, diz Romão, é o aumento do contingente de trabalhadores sem remuneração -de 6,3% e 5,6%, respectivamente, nos meses de dezembro e janeiro frente aos meses imediatamente anteriores. Esse grupo é composto por membros secundários (filhos e cônjuges) que ajudam o chefe da família -em geral, um trabalhador por conta própria- no seu negócio.
"Esse crescimento pode ser mais um sintoma da crise. Acredito que o trabalho não-remunerado tende a se expandir ao menos neste primeiro trimestre", diz o analista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário