Os países emergentes vão enfrentar um déficit de até US$ 700 bilhões este ano em financiamentos para pagar suas importações e honrar suas dívidas, devido à retração da economia e ao aperto no crédito, afirmou ontem o Banco Mundial (Bird). A instituição também afirmou que a economia global vai registrar sua primeira retração desde a Segunda Guerra Mundial, com um crescimento pelo menos cinco pontos percentuais abaixo de seu potencial. Segundo o “New York Times”, é a pior estimativa já feita: até os mais pessimistas ainda esperam uma pequena expansão este ano.
A notícia é do jornal O Globo, 09-03-2009.
Não há um número: segundo economistas do banco, ele deve ser divulgado nas próximas semanas. Reforçando o temor de retração, o Japão divulgou ontem à noite um déficit recorde em sua conta corrente, o primeiro em 13 anos. O déficit foi de 172,8 bilhões de ienes (US$ 1,8 bilhão) em janeiro. As exportações despencaram 46% e as importações, 32%.
O relatório foi preparado para o encontro, no fim de semana, em Londres, dos ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais do G-20 (que reúne os países mais ricos e os grandes emergentes), prévio ao dos líderes do bloco, em 2 de abril.
O Bird afirmou que a crise detonada pelas hipotecas de alto risco nos Estados Unidos espalhou-se rapidamente pelo sistema financeiro global, com a consequente retração do crédito. “Em nenhum lugar o impacto da crise financeira é mais evidente que nos mercados de capital globais dos quais dependem as economias emergentes” — nas quais se incluem Brasil, Rússia, Índia e China.
O banco estima que, este ano, 104 das 129 nações em desenvolvimento não terão superávit suficiente para honrar seus compromissos externos.
Eles devem ter precisar de US$ 1,4 trilhão. Já as necessidades de financiamento externo devem superar as fontes privadas em 98 desses 104 países, o que implica um déficit financeiro de cerca de US$ 268 bilhões. Se a fuga de capitais continuar, afirmou o Bird, o déficit chegará a US$ 700 bilhões
Parte de estímulo deve ir para pobres
“Precisamos reagir em tempo real a uma crise que está se expandindo e prejudicando pessoas nos países em desenvolvimento”, afirmou em comunicado o presidente do Bird, Robert Zoellick. Ele acrescentou que a crise global demanda uma solução global e que é necessário “investir em redes sociais, infraestrutura e pequenas e médias empresas, para criar empregos e evitar inquietação política e social”.
O Bird também alertou que o comércio mundial deve ter a primeira queda desde 1982 e o maior recuo em 80 anos. A região mais afetada será a Ásia. O relatório lembra que, na Índia, 500 mil vagas nos setores voltados à exportação foram fechadas no último trimestre de 2008. Na China, há 20 milhões de desempregados. O banco prevê ainda que a produção industrial caia 15% este ano frente a 2008.
O Bird ressaltou ainda que 94 dos 116 países em desenvolvimento já registraram desaceleração do crescimento, com aumento da pobreza em 43 deles. O resultado é uma maior dependência de ajuda externa. Justin Lin, economista-chefe do banco, disse que os países ricos deveriam direcionar parte de seus pacotes de estímulo às nações mais pobres, o que seria mais eficaz para gerar demanda. Segundo Lin, investir em infraestrutura nos emergentes daria um retorno melhor.
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