por Luiz Carlos Azenha
Fiz uma aposta com o Eduardo Guimarães. Uma aposta que eu não gostaria de vencer. Eu acredito que o Eduardo subestimou a crise internacional em suas análises sobre a economia brasileira. Ele acredita que a mídia teve um papel relevante em provocar a crise. Eu não boto tanta fé no poder da mídia para inventar uma crise econômica, embora seja nítida a torcida do "quanto pior, melhor".
Não sou economista e, em geral, erro sempre em minhas previsões. Dessa vez talvez eu acerte. Eu vivia em Washington quando comecei a acompanhar a crise. E não é preciso ser um gênio para constatar que, diante da globalização e da financeirização do mundo -- dois fenômenos que se entrelaçam -- uma crise profunda nos países centrais afeta as economias ditas "periféricas", por mais que elas estejam preparadas. O risco de os maiores bancos dos Estados Unidos falirem é um sinal da profundidade da crise.
Sim, o Brasil tem um mercado interno, mas não vive só dele. Vive, também, da exportação de seus produtos. A crise atingiu não apenas os Estados Unidos, mas também a União Européia. Dois grandes mercados brasileiros. Reduziu o crescimento na China, outro mercado importante. "Marolinha", como definiu o presidente da República? Até entendo que Lula faça o papel de "dourar a pílula". Nos Estados Unidos, Barack Obama tem sido criticado pelo tom catastrofista que adotou. O governo brasileiro já admite que o crescimento do Brasil não atingirá a meta de 4% em 2009.
Eu disse, lá atrás, que se o Brasil crescer 2% este ano deveríamos soltar rojões. Quando a crise se agravou, mesmo nos Estados Unidos notei um tremendo descompasso entre os números da economia real e o noticiário da imprensa. Se eu acreditasse em conspirações, diria que o "dinheiro inteligente" estava ganhando tempo para pular fora e deixar o mico na mão do "dinheiro burro", ou seja, do estado.
Vai ficar cada vez mais óbvio, no Brasil, que o governo Lula demorou a agir. Só posso especular que os quadros governamentais não se deram conta da gravidade da crise que teriam pela frente. O conservadorismo do Banco Central é típico de quem não se deu conta de que estamos vivendo um momento de transformação. Não se trata, apenas, de mais uma crise, mas "da crise" de nossa geração. Não dá para aplicar velhas receitas em problemas novos.
A doença que acometeu os governos Sarney e FHC também pegou o governo Lula: a falta de coragem política. O loteamento do governo para garantir a "governabilidade", lá atrás, em 2002, desaguou em 2009 nas vitórias políticas de Collor e Sarney dentro do Congresso. O antigo Centrão divide o poder com o governo Lula, que agora é refém dele para as eleições de 2010. E essa "banda podre" sempre foi, é e sempre será imobilista: do jeito que está, tudo bem. Eles sempre estiveram por cima da carne seca. Assim como FHC, Lula faz um governo "reativo". Não ousa politicamente, apesar de montado em 84% de popularidade. Aposto que o cálculo político do presidente leva em conta que à esquerda dele não há lugar para correr. Por isso, Lula costura à vontade ao centro e à direita.
Seria a hora, hoje, de demitir o presidente do Banco Central e colocar no lugar não outro representante dos banqueiros, mas alguem identificado com os novos contornos que o mundo vai tomando. Um mundo em que o papel do estado será decisivo para separar os paises que sairão ganhando da crise daqueles que sairão perdendo. Mas Lula deve satisfações, no Congresso, à sua base mais conservadora. A posição que ele assumiu é justamente aquela que interessa a José Serra e ao PSDB: a única chance do tucano repousa em vender, fora de São Paulo, a imagem de um administrador experimentado e que tem mão firme para conduzir o Brasil num momento de crise.
A situação de hoje é a que mais interessa aos tucanos: um governo imobilizado, que fica esperando a economia reagir como se isso dependesse de alguma simpatia. A sorte de Lula é que a oposição já deu muitas demonstrações de inépcia e confunde o Jornal Nacional com a realidade.
PS: O que o governo Lula fez pela "renovação política"? Quase nada. Não dá para cumprir 8 anos de mandato e dizer que a culpa "é da oposição". Lula fez a inclusão social, mas pecou na inclusão politica. Promoveu a ascensão de uma nova classe média que reproduz acriticamente como verdade o que ouve no BBB ou no Jornal Nacional -- quando consegue discernir entre um e outro. As demandas sociais foram contempladas, mas as demandas políticas foram diluídas no assistencialismo. O Congresso de 2009 é igualzinho ao de 2002. O assalto aos cofres públicos é generalizado. Os ruralistas mandam na política agrária e ambiental; os banqueiros, na política econômica; a Globo nas comunicações. O estatuto do negro parou no Congresso. A reforma da radiodifusão, também. A presença das mulheres no Congresso é de menos de 10%. Os partidos são tão fracos hoje quanto eram há oito anos, talvez mais. Venceu o lulismo, mas não houve avanço institucional equivalente. Não dá para dizer que a culpa é só dos tucanos e demos.
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