O Conversa Afiada recebeu o seguinte e-mail de um navegante amigo, cujo único defeito é ainda ler a Veja:
Paulo Henrique,
Li nesse domingo à noite a Veja. Algumas idéias, se elas forem te servir.
- Na capa de 3 de setembro de 2008, em que apresentou a conversa de Gilmar Mendes com Heráclito Fortes, a manchete da revista não era a conversa. Era um estudo sobre a “Vingança”, com a imagem de um olho vingativo. Em cima, numa linha fina, a submanchete: “Diálogo confirma que o presidente do STF foi grampeado pela Abin”. O Nassif já leu essa pauta, “Vingança”, como uma mensagem ao Paulo Lacerda, pela investigação que se seguiu à reportagem sobre as falsas contas no exterior dos membros do governo. Dessa vez, na carta ao leitor da Veja, vemos uma foto de quem? Do Protógenes? Não, do Paulo Lacerda, o vilão ao lado do herói Marcelo Itagiba.
- Se a reportagem do Protógenes é um caso de “espião nomeado sem o conteúdo da espionagem revelado”, uma reportagem antes temos um caso de “espionagem nomeada sem espião revelado”. A Veja denuncia que o senador Jarbas Vasconcelos seria espionado pela Kroll. A fonte é o próprio Jarbas. Ele diz que foi procurado por um espião com peso na consciência que revelou tudo (como o carrasco da Branca de Neve, que se recusa a matá-la na hora H porque ela era muito virginal). Jarbas promete fazer outro discurso para denunciar isso. Mas adianta que não vai dar o nome do espião propriamente dito.
- Sobre a reportagem do Protógenes, só podemos concluir que ele foi um espião muito incompetente. Veja esse jogo dos sete erros.
* 1) A Veja apresenta um depoimento de um agente da Abin que diz que ouviu o Protógenes falar sobre o Lulinha. De onde a revista conclui que Protógenes espionou Lulinha. Mas a revista diz que a suspeita de Protógenes é pública, conhecida por todos: Lulinha foi contratado por Daniel Dantas alguns anos atrás. Logo, Protógenes espionou Lulinha para descobrir o que todos já sabiam.
* 2) A Veja diz que Protógenes espionou Mangabeira Unger. Diz, porém, que todos já sabiam que Mangabeira Unger trabalhou para Daniel Dantas. Então, segundo a revista, Protógenes espionou Mangabeira para concluir o que todos já sabiam.
* 3) A revista diz que Protógenes tinha arquivos com nomes como “FHC” e “Serra”. Mas diz que os arquivos não foram abertos. E daí conclui. Protógenes espionou FHC e Serra. É como dizer que existem contas no exterior com os nomes Lula, Paulo Lacerda e Romeu Tuma. E não dizer se as contas se relacionam ou não às pessoas.
* 4) A revista diz que Nélio Machado jantou com pessoas no Shundi. E que Protógenes espalhou que as pessoas comprometeriam o Gilmar Mendes. Mas que na verdade nada disso é verdade. Na foto que a revista publica, porém, a pessoa ao lado de Nélio Machado, uma mulher, não pode ser reconhecida por causa da cabeça de uma loira, que se senta na mesa ao lado. As pessoas que se sentam à frente do Nélio Machado não aparecem na foto. Ou seja, é uma foto de um jantar de Nélio Machado com amigos onde apenas identificamos a figura de Nélio Machado.
* 5) A revista diz que Prótogenes espionou a repórter Andréa Michael num encontro com um emissário de Dantas. Isso seria espionagem ilegal. Mas acontece que esse episódio específico está no relatório formal da Satiagraha. Protógenes achou que o encontro merecia um pedido de prisão. A repórter diz, e a Folha, acredita nela, que se encontrou com o emissário de Dantas profissionalmente, para checar notícias. Quem está certo é uma questão de opinião, o juiz não aceitou o pedido de prisão de Andréa Michael, mas isso foi para o relatório.
* 6) A revista preserva a intimidade de Dilma Rousseff e por motivos éticos não revela o que Protógenes espionou sobre ela. Então, tá…
* 7) A revista descobre que Protógenes chama Zé Dirceu de Zeca Diabo, personagem do Bem Amado. E da espionagem feita em Zé Dirceu Protógenes teria tirado que Zé Dirceu tinha negócios no Panamá. Protógenes não precisaria espionar Zé Dirceu para saber disso. Bastaria ler o perfil de Zé Dirceu na Piauí, alguns meses atrás. Em que ele fala sobre… negócios no Panamá.
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