A piora no crédito e nas expectativas em relação à economia levou os empresários a interromper um ciclo de nove trimestres de alta nos investimentos. O volume de recursos destinados à ampliação da capacidade produtiva do país caiu 9,8% no quarto trimestre em relação ao trimestre anterior - quando avançou 8,4%. Ainda assim, o indicador teve a maior expansão anual desde 1996, de 13,8%, reflexo do desempenho anterior à crise.
A reportagem é de Pedro Soares e Samantha Lima e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 11-03-2009.
Na comparação com o primeiro trimestre de 2008, mais uma vez fica clara a piora do humor dos empresários. A alta foi de apenas 3,8%, depois de seis trimestres de variação de dois dígitos. Foi o pior resultado desde o segundo trimestre de 2005, quando atingiu 3,1%.
No ano, os investimentos em capacidade produtiva adicionaram R$ 548,75 bilhões à economia. No ano anterior, em valores correntes (não descontada a inflação), foi de R$ 455,21 bilhões. Dos 5,1% de expansão do PIB, 2,4 pontos percentuais foram resultado da expansão nos investimentos produtivos.
Com a expansão no ano, a taxa de investimento -proporcional ao valor do PIB, que alcançou R$ 2,89 trilhões em 2008- ficou em 19% no ano passado, maior marca desde o início da nova série do IBGE, iniciada em 2000.
A FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo), que indica a variação de investimentos, reflete a disposição dos empresários em investir na ampliação da capacidade produtiva. "O indicador é muito sensível à piora da economia. Quando o empresário constata que a demanda está muito fraca e que as condições de financiamento estão ruins, decide rapidamente desacelerar os investimentos", diz Juan Jensen, sócio da Tendências Consultoria.
"A redução nos investimentos na ampliação da produção pode ser um entrave ao crescimento quando a economia voltar a crescer", adverte Carlos Thadeu Filho, economista-chefe da SLW Asset.
Fase de ajustes
O BNDES registrou, em janeiro, deste ano queda de 42% nas consultas de empresários. A etapa, primeira na obtenção de crédito, é um termômetro da intenção de investimento da economia.
O fraco desempenho dos investimentos rebateu na indústria, cujo PIB caiu 7,4% no último trimestre de 2008 -a maior retração desde o quarto trimestre de 1996 (7,9%). No acumulado de 2008, a indústria cresceu 4,3% -o mais baixo resultado entre os setores.
"A indústria responde por quase 30% do PIB, e uma queda muito forte tem impacto considerável na economia. A indústria vinha num ritmo de produção, mas, com o início da crise, a demanda se frustrou, e o setor se viu obrigado a entrar em uma fase de ajuste de estoques, que passaram a operar acima do normal", avalia Bráulio Borges, economista da LCA.
Para ele, a indústria não vai recuperar os níveis pré-crise, mas vai melhorar depois do tombo no fim do ano. "As vendas de automóveis já mostraram recuperação. Isso não ocorre, porém, com a produção de caminhões, ônibus e máquinas agrícolas, o que mostra que essa melhora da indústria automobilística se refletirá quase que totalmente no consumo das famílias, e não na formação bruta de capital fixo [investimentos]."
Segundo especialistas, os investimentos vão demorar mais para reagir. "Pelos componentes da demanda, fica claro que a queda no PIB se deve à contração do crédito e à piora nas expectativas. Isso influencia do lado dos empresários a decisão de investimento", diz Jensen.
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