"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

sexta-feira, março 13, 2009

A história do dossiê Protógenes

Blog do Luis Nassif - 09/03/09

Alguns dados sobre o vazamento do inquérito da Polícia Federal para a Veja, colhidos a partir de conversas em Brasília.

1.Quem enviou os dados para a CPI foi o juiz Ali Mazloum. O inquérito ainda não estava pronto. O corregedor estava voltando de férias e faltavam duas diligências para completar o trabalho. Mazloum tomou a decisão de remeter o inquérito, incompleto, mas a tempo de tentar ressuscitar a CPI do Grampo.

2.Os dados divulgados são considerados fidedignos (em relação ao relatório). Não se analisou ainda se a “literalidade” (a maneira dos fatos estarem expostos) é fidedigna. Quando tenta implicar o juiz De Sanctis e o Ministério Público, por exemplo, a intenção clara da revista é melar o inquérito Satiagraha. Em nenhum momento, o inquérito da PF identificou qualquer suspeita de atuação irregular de ambos.

3.Nas batidas nas diversas casas, a PF se cercou de todos os cuidados legais: métodos de colheita de provas, mandados de busca, lacração do material recolhido, espelhamento dos HDs. Julga-se que Protógenes não irá negar o conteúdo. Poderá rebater a “literalidade” do inquérito.

4.O acusação central do inquérito é que esse material só poderia estar nos autos ou nos bancos de inteligência da PF, nunca em arquivo pessoal.
5.Esses dados em nada invalidam o inquérito Satiagraha, que foi inteiramente construído com provas legais.

Comentário

Há um bom itinerário pela frente para analisar esse material. O mero fato de possuir arquivos com dados, dicas sobre suspeitos, em si não quer dizer nada. Sempre que se vai investigar algo, colhem-se dados aqui, lembretes ali, fotos acolá. Como são materiais de apoio, não necessariamente teriam que estar armazenados na PF.

Por outro lado, não está afastada a possibilidade de Protógenes guardar material sigiloso, fruto de grampos legais ou ilegais.

Dois pontos precisam ser analisados. O primeiro, a origem do material. Se veio por canais legais ou por pesquisas em dados públicos, é uma coisa. Se por grampo ilegal, é outra. O fato de manter material legal em seu computador pode significar uma falta funcional, não necessariamente um crime.

O segundo, a maneira como foram utilizados. Foram vazados para a mídia, utilizados para chantagens ou coisas do gênero? Não consta. Protógenes guardava para sua defesa, contra inimigos poderosos. Utilizou-os ou não?

Em suma, nem a Veja é isenta, nem a cadeia de informações do inquérito é neutra: o corregedor entrou para pegar Protógenes, já que toda a cúpula da PF tem broncas explícitas do delegado; o juiz Ali Masloum tem mágoas profundas de Protógenes, não sem alguma razão; o deputado Itagiba é cúmplice escancarado do esquema Veja; e a Veja, está envolta com seus fantasmas, da ligação ostensiva com Daniel Dantas e do envolvimento em prováveis ações criminosas (desde assassinatos de reputação até divulgação de grampos de origem não comprovada).

Qual a maneira de resolver a pendenga? Ampla divulgação do material encontrado e não apenas sua entrega à um agente suspeito da história.

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