O tamanho da queda do PIB (Produto Interno Bruto) no quarto trimestre de 2008 foi maior do que o esperado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus principais auxiliares.
A reportagem é de Kennedy Alencar, Juliana Rocha, Simone Iglesias, Fernanda Odilla e Janaína Lage e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 11-03-2009.
Agora, a principal preocupação de Lula é evitar a chamada "recessão técnica" (queda consecutiva em dois trimestres) para manter o discurso de que o Brasil será menos afetado pela crise do que outros países.
Há cerca de um mês, na metade do primeiro trimestre deste ano, a equipe econômica recebeu dados preliminares do desempenho da economia nos últimos três meses do ano passado. Os dados apontaram uma queda do PIB maior do que a prevista pelo governo.
Diante desse quadro, Lula cobrou medidas para tentar fazer com que não haja queda no primeiro trimestre ante os últimos três meses do ano passado.
Um auxiliar do presidente disse que o governo não quer dar à oposição o discurso de que o Brasil estaria tecnicamente numa recessão.
Lula já espera uma queda no seu índice de popularidade. Motivo: pesquisas que chegaram ao conhecimento do governo já dão conta de uma percepção menos otimista da população em relação às medidas adotadas pelo Brasil para enfrentar a crise.
O presidente tem dito reservadamente que é preciso manter o discurso otimista. Do contrário, os agentes econômicos poderiam "pisar ainda mais no freio", para usar uma expressão do próprio presidente.
Nesse contexto, apurou a Folha, Lula deposita esperanças no pacote habitacional. A cúpula do governo avalia que esse anúncio vai estimular investimentos numa área que emprega muita mão-de-obra.
Recuperação
Oficialmente, Lula afirmou que, mesmo que o PIB chegue próximo a zero neste ano, o Brasil não entrará em recessão. Segundo ele, a equipe econômica sabia que o resultado do último trimestre de 2008 mostraria retração, mas disse acreditar na recuperação da economia nos próximos meses.
"Mesmo que ele [o PIB] seja próximo de zero, o Brasil certamente será um dos poucos países do mundo, dos emergentes e dos grandes, que não terão uma recessão como terão os países ricos", disse Lula.
O presidente afirmou que a retomada do crescimento se dará com o fortalecimento das obras de infraestrutura e o lançamento, nos próximos dias, do programa de habitação para famílias com renda mensal de até dez salários mínimos.
A previsão do governo era que o crescimento do país neste ano chegasse a 4%.
Mas técnicos da equipe econômica refizeram as contas e agora esperam alta no intervalo de 2% a 2,5%.
A ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) disse que, além de a queda do PIB ser um "choque esperado", o governo prevê um primeiro trimestre "difícil".
"Este primeiro impacto foi violento, sem sombra de dúvida. Nós ainda esperamos três meses difíceis, bem melhores que outubro, novembro e dezembro, mas ainda difíceis, para uma retomada maior a partir do segundo semestre."
O prognóstico se fundamenta, segundo ela, no fato de que agora começam a "maturar todas as medidas do governo" para assegurar capital de giro e investimentos de longo prazo.
Na lista da ministra para o Brasil voltar a crescer, estão a geração de emprego com mais turnos para obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e investimentos da Petrobras, além do novo pacote de habitação que ainda não tem data para ser lançado.
O presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Luciano Coutinho, afirmou esperar que o crescimento fique entre 2,5% e 3% em 2009. Mas disse que, se a crise for mais duradoura e profunda, a expansão da economia poderá ficar mais próxima dos 2%. O banco estuda com o governo novas medidas de estímulo ao crescimento econômico.
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