Coluna Econômica - 04/03/2009
Desde que ocorreram mudanças no IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas), o órgão passou a se constituir em contraponto eficiente à ação do Banco Central.
Tem cometido escorregões, como a definição de concursos que privilegiam um tipo apenas de formação acadêmica - incorrendo no mesmo erro dos mercadistas, que só aceitam a visão da “planilha” nos seus guetos.
O IPEA voltará a ser o grande think-tank nacional quando souber abarcar as várias formas de conhecimento e de visão da economia.
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Mas esse fato não tem impedido que levante contrapontos à atuação do Banco Central.
O último trabalho foi “A gravidade da crise e a despesa de juro do governo”, de João Sicsu, diretor do DIMAC (Diretoria de Estudos Macroeconômicos).
Começa mostrando a gravidade da crise. O ponto que mais chamou a atenção dos pesquisadores foi a velocidade com que a crise se propagou. “Tudo indica que grande parte da crise da economia brasileira é um evento expectacional (de expectativas) genuíno em que “profecias” se auto-realizam. A velocidade da queda do emprego e da atividade industrial recente não parece ser explicada totalmente por dificuldades no mercado de crédito. Não seria uma crise do lado real que teve sua origem exclusiva no lado monetário/financeiro da economia”, diz o trabalho.
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Existem três formas de demanda, a externa, a privada (empresas e trabalhadores) e a governamental. As duas primeiras tendem à retração.. A governamental é a única maneira de estimular a demanda interna.
Mas, para isso, a questão fiscal tem que estar em dia.
“Em 2008 , o déficit nominal do orçamento federal foi de apenas 1,53% do PIB. A relação dívida líquida/PIB descreve uma trajetória muito favorável, tendo atingido, em janeiro, 36,6%”, constata o trabalho. Mas em 2009 haverá uma queda da arrecadação provocada pela redução do nível de atividade econômica. Prevê-se uma queda de R$ 25 na arrecadação federal. O desafio é garantir os gastos públicos e manter o déficit nominal e a relação dívida líquida/PIB em patamares aceitáveis.
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O trabalho procede a uma análise dos gastos públicos, sob a ótica do multiplicador (impacto sobre renda e emprego). Divide os gastos em três categorias: gastos com juros, com investimento, com transferências sociais.
Constata que o primeiro tem baixo impacto na geração de empregos e alta velocidade nos impactos sobre a economia. Os investimentos têm alto impacto na geração de empregos e baixa velocidade nos efeitos sobre a economia. E os gastos sociais tem alto impacto na geração de empregos e efeito rápido. O caminho seria, então, a redução dos gastos com juros em benefício das duas outras categorias.
A partir disso, propõe uma agenda do Copom para redução de juros? redução de 1 ponto percentual na taxa Selic em cada uma das próximas cinco reuniões ordinárias do Comitê de Política Monetária (Copom) e uma redução de 0,75 p.p. na reunião seguinte.
A taxa cairia de 12,75% para 7% ao ano. A economia fiscal seria de R$ 30 bilhões Se a queda se desse na primeira reunião, a economia fiscal seria de R$ 43 bilhões.
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